quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Fogão de lenha

Era sagrado.
Todos os dias eu acordava, ia pra escola, almoçava e pegava as minhas panelinhas: era hora de fazer comida.
Saía pelo quintal recolhendo plantinhas diversas, terra, pedrinhas, gravetos e água. Eu desenformava bolinhos lindos de terra, decorava com folhas e servia para minhas bonecas no jogo de pratos rosa que minha mãe tinha comprado pra mim.
Eu poderia fazer isso na varanda da casa, na garagem, mas nada como cozinhar no quintal.
Lembro que minha mãe me procurava muitas vezes pela casa e me encontrava no meio do quintal, falando sozinha e cavando o chão em busca de terra mais fofa.
Eu passava horas ali.
Aí eu cresci e descobri que cozinhar comidas de verdade era também prazeroso, e descobri que tenho um certo talento pra coisa... Em meio a tantos almoços que precisei fazer, as lembranças dos tempos de fazer comidinhas de terra fora de casa foram ficando guardadas em algum canto aqui dentro.
Até essa semana.
Minha mãe instalou um fogão de lenha no quintal, colocou uma mesa perto, comprou um jogo de panelas de ferro, colheres de pau e ingredientes naturais. Chegou com as sacolas do mercado toda feliz e disse:
- Me ajuda a cozinhar no quintal?
Eu pude sentir o cheiro da terra molhada.
Cortamos os temperos na mesa, sentindo o vento bater no rosto, cuidando do fogo, colocando mais lenha, mexendo nas panelas. Cena que vai ficar pra sempre na memória.
Voltamos a ser criança.
Perguntei:
- Mãe, a senhora cozinhava no quintal quando era criança?
Ela respondeu:
- Sim, como você fazia.
E ficamos ali, por quase três horas, curtindo a magia de voltar a ser criança quando adulto.
Melhor que isso foi abrir as panelas e poder comer o que havíamos feito. Estava delicioso... A comida e as lembranças.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eu vou casar

Eu vou casar.
Eu sempre soube que me casaria um dia, mas não fazia ideia com quem seria.
Eu vou me casar com o homem que riu quando eu disse que pesava 130 quilos, que esperou eu voltar para dar meu endereço de e-mail, que foi gentil quando eu pensei que não existia mais gentileza.
Eu vou me casar com o homem que chegou de mansinho, que me mandou diversas indiretas de me tirar o fôlego, que me falou das estrelas.
Eu vou me casar com o silêncio dele, e ele vai casar com meu barulho de panelas, música clássica e gritos alucinados numa partida de futebol - e isso tudo ao mesmo tempo.
Eu vou me casar com o homem que faz carinho no meu pulso pra eu dormir, que cuida de mim quando estou doente e que respeita minha tpm.
Eu vou me casar com o homem que não cospe mais os caroços de uva porque o barulho me irrita, que não assobia no telefone pro meu ouvido não doer e que sabe que eu morro de medo de barulho de moto acelerando.
Eu vou me casar com o homem que me enche de livros, que me ouve contar a história depois e, pior, me acalma quando o livro é triste tentando me fazer sair do meu mundo de fantasia.
Eu vou me casar com um cientista que o tempo inteiro me faz ter noção do perigo de limpar o fogão que está ligado na tomada com os pés descalços, por exemplo, e que me fala quando terá eclipse.
Eu vou me casar com o homem que é meu amigo, que me ouve durantes horas, que me vê falar de um problema e resolvê-lo no minuto seguinte simplesmente por estar desabafando.
Eu vou me casar com o homem que me traz chocolates e me anima quando quero chutar o balde.
Eu vou me casar com o homem que decidiu lutar por mim, que não se importou com a minha religiosidade e arregaçou as mangas para me mostrar o Cristo.
Eu vou me casar com o homem que me ouviu chorar diversas noites, e me fez sorrir minutos antes de fechar os olhos e pegar no sono.
Eu vou casar com o homem que ora por mim até eu dormir, que me explica as coisas que não entendo, que respeita minha maneira de pensar e, melhor que isso, tenta entender.
Eu vou me casar com o homem que está completando 26 anos. Eu o conheço há 3 anos e meio, mas parece que não me lembro de como era o mundo antes disso.
Eu quero fazer esse homem feliz, agradá-lo com meus dotes culinários, decorar a nossa casinha, usar o avental florido pra fazer o almoço de domingo, cuidar dos nossos filhos, vê-lo crescer e realizar os sonhos de Deus pra nossa família.
Eu quero te dizer, Tharsis, que você foi a melhor surpresa de Deus pra mim e que nenhum presente que eu posso te dar representa o tamanho do amor e gratidão que sinto por você me amar.
Finalmente, o último aniversário que passaremos distantes. Ano que vem será na nossa casinha, comendo chocolate, tomando água com gás e vendo o nosso filme favorito.
Eu te amei ontem, te amo hoje, e vou te amar pra sempre.

Parabéns, amor!











sábado, 14 de setembro de 2013

Simplesmente cuida

Essa coisa de escrever com essa poluição sonora não é comigo, sabe?
Esses caminhões carregando cana, as bebidas chegando na transportadora que fica na rua detrás, os gatos irritando os cachorros da vizinha e, pior que isso, os pedreiros no quintal de casa.
Não há Bach que me ajude a escrever.
Finalmente, esse sábado me reservou uma tarde silenciosa na piscina com a minha mãe, um banho relaxante no final da tarde, e um silêncio precioso no início da noite que me fez voltar a ter vontade de escrever - não que eu esteja inspirada, mas sei lá.
Relaxar mais um pouco, sabe? Deixar os dedos correrem sobre o teclado e escrever o que quiser.
É ruim quando você passa muito tempo concentrada em escrever as coisas corretas, com início, meio e fim.
Eu não pretendo deixar tão cedo essa arte de deixar os dedos correrem sobre o teclado e aliviar um pouco da minha mente cansada, tão cansada ultimamente.
Você já tentou se conter quando conter-se não era sua atitude preferida?
É complicado não explodir quando se quer explodir.
É complicado não falar a verdade quando você percebe que as palavras poderiam arruinar o mundo de alguém.
Conter-se para não arruinar o mundo de alguém pode ser bastante incômodo, mas necessário.
Algumas coisas as pessoas, definitivamente, nascerão e morrerão sem conhecer, sem ter o privilégio de experimentar. E não falo de dinheiro. Eu falo de sentimentos, sensações, momentos que o dinheiro não compra.
É bom viver tranquilamente, sem se descabelar para pagar as contas e sustentar a pirralhada.
Mas essa sensação de banho tomado depois de uma tarde de muita conversa e risadas nada pode pagar. Como as muitas vezes que jogamos boliche, que tomamos champanhe ao som de um sertanejo barato porque era a sua música preferida.
Nada compra dias inteiros de farra, conversas intermináveis sobre o amor, a vida, o dinheiro, o sobrenatural. Nada compra as manhãs com café na cama e conversa jogada fora, as muitas vezes que estouramos o cartão comprando vestidos e sapatos e bijuterias e maquiagem. 
Nada compra essa nossa mania de desistir dos compromissos do dia pra colocar um vestido confortável e ficar na sala de papos pro ar.
Eu não trocaria essas lembranças para virar exposição.
Não troco os momentos que quero viver por alguns centavos que me fugirão das mãos como água.
Bom mesmo é ver a vida desse jeito. Se sentir realmente satisfeito depois de amar, de comer sujando a boca, de pegar a fruta no pé, de dormir no ombro amado com o vento batendo no rosto.
Quem vive assim sabe que o amor não adia encontro, não prorroga abraços, não deixa um beijo pra depois. Quem vive assim vive o momento, tira sarro do problema, ri depois de tudo resolvido, festeja quando dá certo e esquece o que foi feito errado.
Quem vive assim é criança, criança feliz, criança que não se importa com o que os outros pensam.
Quem vive assim sabe que não é mérito seu alguém ter escolhido pousar ao seu lado.
É lindo quando alguém resolve pousar do nosso lado podendo voar. Podendo encontrar outros ninhos, outros caminhos, mas escolhe ficar. Fica do nosso lado.
Quem vive assim não fala "se cuida". Quem pensa assim simplesmente cuida.


...


Já tá sabendo que eu lancei um e-book pela Saraiva?
Não? O.O
Então passa lá e garanta o seu :)

Agora pode sair, apagar a luz e fechar a porta. :)






sexta-feira, 16 de agosto de 2013

MEU PRIMEIRO LIVRO

Finalmente, entre travadas e destravados do meu computador e do sistema, publiquei o livro!
Estou muito, muito feliz e quero compartilhar isso tudo com vocês!

Compartilhe, divulgue, grite da janela do oitavo andar, desça a ladeira gritando aos ventos que meu livro finalmente foi lançado!

Clique aqui e compre!

Eu espero que vocês gostem, que vocês comentem, que o que eu escrevi um dia faça algum sentido pra você hoje!


Beijinhos e não apaga a luz não porque hoje eu não vou nem dormir de tanta alegria! :D

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Aviso de sumiço com NOVIDADE!

Você pode dizer o que quiser quanto à minha ausência no blog. Jamais concordarei com você quando disser que sumi, que abandonei e o escambau aquático porque somente agora sumirei oficialmente porque estou avisando por aqui.
É madrugada, não sei se vou conseguir organizar minhas ideias, mas é o seguinte:
MEUS TEXTOS VIRARÃO E-BOOK - ou livro digital!
Sim, é isso mesmo!
Por isso, além de estar num trabalho bastante cansativo da arte do e-book e tudo mais, estou escrevendo textos inéditos e - ÓBVIO - não irei postar aqui no blog por alguns dias, talvez meses.
Ainda não tenho ideia de quando lançarei o e-book, mas eu passarei no blog pra deixá-los atualizados.

De qualquer forma, estou muito empolgada, foi um sonho do meu namorado que acabou virando meu e que caiu em minhas mãos como um presente do céu!


Então... É isso!

Deixa a luz acesa quando sair porque trabalho é o que não me falta!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Desabafo

Pai, sou eu de novo aqui embaixo.
Dessa vez a janela não está aberta, eu sequer olhei se tem lua hoje e está muito frio, não tem brisa que me aquece, pelo contrário, um vento frio que gela meu coração toda as vezes que sinto essa dor.
Eu disse que nunca mais escreveria nada sobre o que realmente sinto, principalmente nesses dias escuros, mas somente os apaixonados juram nunca mais amar, eu jurei nunca mais escrever nessa escuridão e estou aqui, com os olhos marejados, te pedindo ensinamento.
Eu poderia te pedir tanta coisa. Dez reais, por exemplo. Ou uma festa de casamento.
Mas eu quero mesmo é aprender com você algumas coisas muito chatas, que incomodam qualquer criança.
Eu não sei esperar, não sei te olhar e acreditar nesse 'tempo certo pra todas as coisas' afinal, porque insistir sem fé nenhuma?
Mas aí eu insisto porque eu aprendi a confiar que, no final, alguma coisa fará sentido.
Me ensina a ver tudo o que eu vejo todos os dias e não explodir. Eu preciso aprender a não explodir, preciso aprender a enxergar as coisas desse teu jeito cheio de amor e de uma graça que eu não encontro em ninguém, afinal, quem me amaria desse jeito, não é mesmo?
Parece que eu estou jogando conversa fora, fugindo do assunto - pode até ser isso - , mas é que eu venho caminhando como posso, fazendo o que está ao meu alcance, cambaleando nesses dias escuros que me cegam e me dão um desespero horroroso.
Antes eu tinha certeza que essas coisas eram coisas de adolescente intenso, que ia passar. Mas é que agora sinto amadurecer, petrificar dentro de mim coisas que levarei pro resto da vida, que meus filhos enxergarão no fundo dos meus olhos como uma janela que se abre pro mundo, e eles saberão a dor que é enclausurar-se dentro de uma casulo que não é seu.
Eu preciso dessa força, dessa sua atitude, desse seu amor, do seu perdão pra que eu possa perdoar toda a minha falta de fé e coragem. Me perdoar porque, muitas vezes, esqueço que existe um céu para se olhar e me tirar um sorriso quando algumas coisas já não existirem mais em mim e nos outros.
Me perdoar por ter me tornado essa pessoa insípida, que deixou de ver a beleza que tu deixaste pra mim e foquei nisso tudo que não vale a pena.
Meus pés estão cansados mas, quem sabe ao te sentir de novo aqui eu arrisque mais um passo e tudo isso fique no passado, no mais distante passado.


                                                 



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Cai bem ser louco

Cai bem um biscoitinho doce depois do almoço. Cai bem água com gás com chocolate. Cai bem descrever seus compromissos do mês da agenda antes de dormir. Cai bem rever algumas fotos. Cai bem dormir de conchinha, aninhado como em um só. Cai bem beijo com estalo. Cai bem beijo demorado. Cai bem presentear a quem ama. Cai bem ouvir música enquanto cozinha. Cai bem ler quando não tem ninguém em casa. Cai bem dormir depois de limpar a casa toda. Cai bem o cheirinho de amaciante da roupa recém-passada. Cai bem o cheirinho da orelha de quem a gente ama. Cai bem deitar no ombro, sentir os dedos no cabelo, pegar no sono. Cai bem sair com as amigas. Cai bem rir das situações mais ridículas que a vida nos coloca. Cai bem ensinar seja lá o que for pra qualquer pessoa. Cai bem colocar as fotos dos álbuns em porta retratos. Cai bem comprar bibelôs para enfeitar a casa. Cai bem conhecer algumas pessoas, ignorar seu lado anti-social, entender como gira o mundo delas. Cai bem se deparar com um sorriso de criança ao final de um dia bastante cansativo. Cai bem sentar no banco da praça, comer dois alfajores e observar a vida rápida de quem passa correndo como você estava minutos antes. Cai bem receber uma ligação cheia de carinho às 02h56 da manhã. Cai bem descobrir que você é amado nas mínimas coisas. Cai bem dividir o mesmo canudinho, o mesmo cobertor, a mesma colher, o mesmo livro. Cai bem ter seu próprio livro de receitas. Cai bem escrever um livro, um poema. Cai bem comer tanta paçoca com suas amigas até passar mal. Cai bem tomar muita água depois. Cai bem colecionar conchas do mar, botões de roupa, caixas. Cai bem fazer o que a gente quiser. Cai bem ser feliz, mesmo que pra ser assim a gente pareça um louco.



                                              

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Marasmo meu

Não te incomoda quando alguém passa por você e volta?
Você não se perde no tempo?
Claro... É sempre bom manter contato, saber como aquele seu velho amigo anda, olhar as fotos do seu casamento e do nascimento do seu primeiro filho. Mas não rola voltar a ser vizinho.
Seria como dormir pro lado contrário da cama e acordar achando que está do outro lado, levantar no meio da madrugada e dar com a cara na parede!
Confuso demais pra quem tenta acertar a ordem cronológica dos acontecimentos do último mês.
A gente corre pra caramba, tenta fugir do relógio o tempo todo.
A soneca do despertador é um martírio que eu já desisti dele há tempos.
A gente corre e tenta encontrar no tempo uns vãos pra ser feliz e só lembrar do que importa.
Daí não cola, de repente, cruzar com alguma coisa do seu passado que você nem lembrava mais e tomar um choque de lembranças com cheiro de poeira de gaveta que ninguém abre há muito tempo.
Sabe...
Certas coisas não precisam voltar. Ficam lá, em alguma lugar do passado, em alguma gaveta escondida num armário qualquer.
Você viveu, curtiu, passou. Não precisa voltar.
Voltar dói, dá dor de cabeça, os olhos brigam com a luz e se negam a abrir.
Eu e meu jeito confusa, meio estabanada, derrubando as coisas enquanto caminho depois que acordo.
Eu e meu jeito corrido, fugindo do tempo e correndo pra ele no minuto seguinte, implorando pra que ele passe depressa e que os braços de quem me ama  me detenha numa dessas minhas corridas e me faça ninar pelo resto da vida.


Quando sair, apague a luz e... Não volte.





quarta-feira, 17 de abril de 2013

Eu, minha mãe e os livros

Minha mãe sempre gostou de História. Cresci ouvindo as histórias da ditadura, do Collor, e de algumas personalidades que não me vem à memória agora porque eu não tenho memória boa.
Esses dias eu tirei uma nota ruim numa disciplina que trata exatamente de política. 
Eu nunca gostei de política. 
É meio piegas falar isso, mas é verdade. Sempre evitei ler as histórias e os acontecimentos por dois motivos:
Primeiro: eu sei que, depois de saber em detalhes os funarés que esses engravatados vêm causando desde que o Brasil é Brasil, eu sei que passarei semanas tomando doses redobradas de ansiodoron e ficarei parecendo uma velha chata reclamando de tudo com todos.
Segundo:  eu sou péssima em entender a linha do tempo das histórias. Qualquer história que alguém me conte eu irei confundir com alguma outra que ouvi ou então trocarei os acontecimentos passados pelos mais recentes e vice-versa.
Definitivamente, não é uma boa ideia.
Eu que não sei contar a ordem cronológica dos acontecimentos na minha vida, vou saber contar alguma história que aconteceu em 20, 30, 50 anos no Brasil?
Mas como nem tudo são flores, uma hora a gente acaba batendo de testa com aquilo que a gente não gosta e eu bati de testa com a política e tudo o que envolve a política e me dei mal.
Eu li horrores, estudei, li os capítulos do livro, pesquisei, estudei as anotações do meu caderno. Fiquei vesga – literalmente – de tanto ler. 
Mas parece que não foi suficiente, minha colega de classe que só leu o resumo no ônibus enquanto ia pra faculdade tirou 10,0.
Você sabe, eu fiquei péssima.
Quando recebi a prova eu tive vontade de me bater, de me perguntar o que eu realmente estou pensando da vida e fazer um daqueles discursos que a minha mãe costumava me fazer quando eu estava na quinta série.
Eu percebi também que algumas pessoas que pegaram a mesma prova que eu, já que a prova era sortida, também não tiraram boas notas. Então, para justificar essa nota ruim pra minha mãe – sim, ela ainda monitora minhas notas na faculdade como se eu ainda estivesse no primeiro ano - , eu disse pra minha mãe que a prova que eu peguei estava extremamente difícil, que ninguém que pegou a mesma prova que eu tirou mais que 8,0.
Ela semicerrou os olhos, me olhou e disse:
“Você devia ter estudado.”
Eu fiquei 50 tons de bege e repliquei:
“Mas, mãe... A senhora viu que eu estudei! Estava realmente difícil.”
Ela voltou a escrever no seu caderno e resmungou:
“Você poderia ter estudado mais.”
Eu me senti de novo no segundo ano, criticada pela minha mãe por ter tirado 9,0 em português porque eu errei acentuação das palavras. 
Ela havia me ensinado as palavras desde os meus três anos de idade, jamais iria aceitar que eu errasse a acentuação da palavra “coração” e “atenção”.
Hoje, todas as vezes que escrevo “coração” lembro do cheirinho da minha mãe e da letra dela que mais parece uma obra de arte me ensinando o cedilha e o til.
E agora, pra sempre me lembrarei do olhar semicerrado dela me dizendo que eu poderia ter estudado mais. Eu poderia ter lido mais, ter me interessado mais.
Eu sei que jamais ouvirei de minha mãe:
“Já tá bom de estudar.”
Lembro como se fosse hoje, numa caminhada na beira-mar, enquanto o sol se escondia por detrás das montanhas, ela me olhou carente e disse pra eu nunca parar de estudar, pra eu nunca deixar de amar seja lá o que for.


Eu poderia ter tirado a nota que ela queria tirar por mim.

Eu posso realizar as coisas que ela quis e não pôde.

Eu posso amar como ela não poderia, mas ama.







À minha mãe, minha eterna gratidão por ter me mostrado e me ensinado a amar as mais lindas obras de arte: os livros.


sábado, 6 de abril de 2013

“Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha.Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada.”


(Fabrício Carpinejar)

sábado, 30 de março de 2013

Perto está o Senhor

Nessa época - e mais do que em qualquer outra -  a saudade invade por saber que existe um amor maior do que toda essa dor.
Me sinto livre pra festejar esses três dias - e não só eles, mas todos os dias da minha vida - , por que eu sou livre, porque Ele me fez livre.
É triste lembrar que durante muitos anos eu passei chorando e lamentando a morte de alguém que morreu por mim, como se um branco invadisse a minha mente e eu de repente me esquecesse que Ele não só morreu, mas Ele ressuscitou pra me mostrar que existe alguém maior do que tudo aqui.
Existe alguém maior do que os meus medos, minha revoltas, meus traumas, meus sentimentos, meus temores, maior que toda a minha ansiedade, maior que as minhas crises, maior que as minhas dores, maior que a minha alegria, maior que os meus sonhos. 
Hoje eu acordei e, antes de qualquer coisa, eu pensei nesse amor tão grande. Como por um impulso, abri a Bíblia e meus olhos correram para uma frase que eu havia sublinhado com traços trêmulos: 
"Perto está o Senhor."
E eu O senti ali, me olhando, me contemplando sem Se importar com quem eu sou, com quem fui. Ele estava ali comigo sem Se importar com meus pensamentos, minhas atitudes.
Ele não se importou com os meus momentos de dúvida a respeito da Pessoa dele. Ele simplesmente estava ali me amando e cumprindo a promessa de que jamais ficaria longe, e confirmou quando me fez correr os olhos para a frase:
"Perto está o Senhor."
Perto Ele está... Mais perto que a religião, que as doutrinas do homem, mais perto que os maus obreiros, mais perto que as pessoas que me olham de cima, mais perto que o meu passado e futuro,  mais perto que eu de mim mesma.
Perto está o Senhor e nesse dia eu não quero me lembrar de Suas dores por mim, mas do Seu imenso amor ao se entregar por mim e me prometer que jamais me deixaria.

Perto está o Senhor  e a sua paz guarda meu coração e os meus sentimentos.
E aí já não existe temores, dúvidas, assombros ou culpa. Ele veio e tirou o fardo que pesava sobre os meus ombros, um fardo que eu não podia suportar, e trocou pelo seu abraço repleto de carinho e compreensão me fazendo entender que ele pode me entender e me amar como sou. 
Dessa forma, Ele tem a autonomia de completar em mim a Sua boa obra... Porque Ele me ama.

Ele me ama.
Ele te ama.
Ele nos ama.




Feliz Páscoa, a verdadeira Páscoa!



sexta-feira, 1 de março de 2013

Realizar

As coisas estão fluindo e eu estou percebendo que elas estão indo pro caminho certo. De repente, eu olhei ao redor e percebi que já devia estar aqui há muito tempo, na verdade, eu não devia, eu queria; mas no fundo eu sei que há tempos atrás eu não deixaria nada disso acontecer.
Não deixaria pelo simples fato de que, naquela época, eu não iria querer. Eu tinha medo, e o medo paralisa a gente. Esconde sonhos nas gavetas. 
De vez em quando, eu olho aquele sol despontando, trazendo uma vida que eu não conhecia, e eu sinto as mãos tremerem.
Viver tudo isso era o que eu mais temia.
Pra espantar o medo eu costumo conversar e, ultimamente, tenho falado mais que o normal, evitado almoçar sozinha e preparar o jantar sem ouvir uma boa música ou conversar com alguém.
Porque, de repente, eu me vi abrindo a gaveta devagar e revirando alguns papéis. Me deparei com sonhos empoeirados, mal sonhados, rabiscados. Encontrei outros acinzentados - o tempo tirou a cor. Outros ainda, com a letra da menina que sonhava em patinar na neve, ter uma floricultura e criar pássaros. 
Eu não tive coragem de abrir toda a gaveta, abri o suficiente pra puxar com dois dedos aquilo que eu queria resgatar. Estava rasgado, amassado num canto, ainda com as marcas de algumas lágrimas.
Me recusei a passá-lo a limpo. Eu teimo em desconfiar que as coisas ainda podem dar errado e, se dessa vez der errado, é só devolver o sonho na gaveta.
Eu também queria achar esplêndido, queria acordar encantada, sonhar todas as noites. Mas, chega uma hora que a gente prefere seguir em frente com os pés no chão. Eu já flutuei demais.
Eu quero sonhar que, amanhã, uma menina que também vai sonhar em patinar na neve, ter uma floricultura e criar pássaros não vai abrir a gaveta pra resgatar um sonho como esse. Não vai empurrar pro canto alguns sonhos que o tempo tirou a cor.
Antes eu sonhava em me realizar.
Hoje eu sonho em realizar alguém.





quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A saudade que ninguém merece sentir

A saudade faz as coisas pararem no tempo. A ausência de quem a gente ama é cruel demais com a nossa alma. Eu vi em alguma dessas redes sociais que hoje é dia da saudade. Sinceramente eu não sei se isso procede, mas eu preciso falar.
Hoje eu ouvi - numa daquelas entrevistas ligeiras em que só aparece o microfone e a pessoa falando -, uma moça chorando e lamentando a morte do namorado que confundiu o banheiro com a saída de emergência e acabou morrendo.
A saudade dessa moça poucos entenderão.
Como já dizia Clarice Lispector "Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença.", essa moça nunca mais vai poder 'comer' a presença do homem que ela amava, assim como muitos pais e irmãos e tios e amigos e professores.
Essa saudade é cruel e me faz chorar a cada reportagem, a cada imagem, a cada lágrima rolando no rosto dos que sofrem desse mal.
Digo mal porque essa saudade corrói um pedaço da gente e nunca mais somos o mesmo.
Ela agride, maltrata e persegue em tudo: na comida que a pessoa ausente gostava, na cor, no estilo, nas músicas, nas roupas, os lugares que frequentava, o perfume que usava. Tudo.
E nos resta esse sentimento vazio, esse aperto no peito quando tentamos nos colocar no lugar daquelas pessoas e sequer conseguimos imaginar como superaríamos tal acontecimento.
Eu sinto saudades e sorrio quando essa saudade me tortura e me encho de esperanças esperando o dia de reencontrar todos de quem sinto saudade, mas e essas pessoas? Essa saudade irá apertar o coração delas sempre que ouvirem a campainha, virem o nome da pessoa nos contatos do celular, sentirem alguém usando o mesmo perfume.
A saudade dos planos que não se concretizaram, dos sonhos que não se realizaram, do curso que não terminou. A saudade de um futuro que nunca vai existir.
Essa saudade eu queria que ninguém sentisse, mas contra essa minha vontade bate de frente uma realidade cruel que me dificulta o sono desde domingo.
Não só o meu, mas de milhares de pessoas.
Essa saudade não devia ser de ninguém, de ninguém. 


                               Estamos em luto com todo o Brasil.


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2013

Pode abrir as janelas e respirar bem fundo.
Nada de promessas. Promessas feitas ao som ensurdecedor de fogos de artifícios costumam ser vazias.
Só respire lentamente e sinta esse novo ar invadindo os seus pulmões e te trazendo um sentimento bom. 
Sim, um sentimento bom. E não me pergunte se é paz, amor, carinho, amizade - tudo isso aí é um tipo de sentimento - eu falo de um sentimento bom: ele não tem outro nome.

Ainda bem que existe o recomeço. A primeira hora do primeiro dia do primeiro mês de um novo ano. 
É inevitável carregar todas as dores e lamúrias e sorrisos do ano que acabou de passar. 
Um dia, quando o expediente acabar, a noite estiver chegando, o tempo estiver nublado e você estiver sozinho, você vai se lembra desse ano que acabou de passar como um vulto. 
Você vai se lembrar dos amores, dos amigos, das perdas, das brigas. Do sorriso embargado em lágrimas. Do choro arrancado com urgência por um sorriso amarelo.
Você vai se lembrar das partidas, das dolorosas despedidas, do que devia ser dito e não foi.
Vai se lembrar dos beijos que não terminaram, dos abraços frouxos, dos olhares de mágoa. Vai se lembrar das muitas vezes que quis correr atrás e consertar tudo com um pedido de perdão, mas você foi covarde e voltou no minuto seguinte.
Vai se lembrar das promessas que fez, dos sonhos que enterrou, dos pesadelos que teve.
Também vai se lembrar das gargalhadas ao término de uma boa piada, de uma cena engraçada que te faz rolar de rir toda vez que você lembra. Vai se lembrar das belas palavras que ouviu minutos antes de pegar no sono, e vai ter a leve impressão de que, naquela noite, alguém acariciou os seus cabelos enquanto você dormia profundamente - e nesse instante, você vai se arrepiar.
Vai se lembrar dos almoços em família, do som das crianças correndo, dos livros que leu, das músicas que ouviu e que marejaram seus olhos.
Em algum momento desse novo ano, quem sabe agora, você vai se lembrar de todos esses momentos que estarão agarrados à você por toda a sua vida, e eu te desejo coragem.
Coragem para amar quando cruzar com alguém com os olhos marejados de mágoa. Coragem para amar quando se decepcionar com quem menos espera.
Coragem para não desistir do que sempre sonhou, não desistir de um amor, não desistir de um sonho, de uma cura, de uma família.
Que 2013 venha repleto de coragem.
Coragem para dizer o que for preciso com palavras repletas de amor, coragem para tomar decisões, coragem para afastar o medo.
A vida é demais pra ser vivida de qualquer maneira. 
Que os olhares de admiração de influenciem e te motivem a continuar do jeitinho que você é, que as palavras de amor e carinho te façam derreter antes de pegar no sono. Que você faça valer a tua presença aqui todos os dias.
Que você aprenda a se despedir direito, aprenda a carregar um pedaço da pessoa amada consigo, de forma que a saudade pareça maior que você.
Que você não deixe as coisas passarem despercebidas. 
Que os detalhes desse recomeço sejam apreciados, venerados e jamais esquecidos.
Detalhes te fazem mais gente.
Que nesse início você faça como a primavera: se deixe cortar e renasça mais forte.
Acorde todos os dias e seja feliz de propósito!