E aí que um dia você conhece a pessoa perfeita. Aquela pessoa que te entende, te compreende, te faz carinho, ri das besteirinhas que você faz e fala, te dá beijinho de esquimó enquanto você se derrete todo, e certo dia você acorda e percebe que não consegue mais parar de pensar na pessoa, tudo te faz lembrar ela e o simples fato de você imaginar que pode perder essa pessoa, você chora horrores e prefere a morte. Mesmo com todos esses sintomas de completa insanidade, você teima em dizer que está amando. É aí que tudo se explica: a gente ta vivendo nesse mundinho 2.0 onde o “eu te amo” virou vírgula porque ninguém, lá atrás, se deu ao trabalho de definir o amor.
Alguém diz pra essa juventude desmiolada que o amor não é isso que brota da noite pro dia depois de uma noite de ‘pegação’? Aproveita e diz também que o amor não é isso que acaba do dia pra noite depois que ele não quis assumir o romance no Orkut, twitter e cia.
Já se olhou no espelho depois de tomar um banho quente? Como é que o espelho estava? Embaçado. Pois então, isso é o que você sente depois de conhecer alguém que te interessa muito ou o que você sente nos primeiros meses e até anos de namoro.
Depois de um tempo, quando você abre a porta e sai do banheiro, o vidro desembaça e aí você se enxerga perfeitamente. Parabéns. Isso é o amor.
Eu, sinceramente, não queria escrever sobre o amor. Porque, depois de um tempo, meu conceito sobre ele tornou-se algo terrivelmente absurdo pra muita gente.
Amor não é isso aí que você sente quando conhece alguém. Isso é paixão, encanto, atração, qualquer coisa, menos amor. Porque amor não é o que começa, mas o que fica. Depois de todas as surpresas, de todos os beijos, de todas as conquistas, de todos os olhares, o amor é o que fica. Porque é muito fácil você dizer que ama alguém enquanto os defeitos dessa pessoa não te incomodam. É muito fácil dizer que ama quando ela faz tudo o que você quer, quando ela te agrada, te enche de carinho e tudo conspira a favor de vocês. Mas depois que tudo isso passa é que a gente tiro véu, destranca o cadeado, abre as janelas e percebe que por trás de tudo isso o amor estava lá, escondidinho.
O amor é eterno, e nem todo mundo tá preparado pra viver o 'eterno', o 'pra sempre'. As pessoas preferem trocar essas palavras por outras menos assustadoras: “constante”, “contínuo”, “teimoso”.
O amor é surpreendente. O amor é um menininho sapeca que te irrita com as suas trapalhadas, com as suas traquinagens, e aí, no meio de uma frase ou outra você pensa “estou feliz outra vez”.
A paixão te deixa confuso, atordoado, o coração queima e te falta o fôlego. O amor te dá paz, te aquece na temperatura ideal e te faz dormir. O amor te motiva a ver o sol, a lua, uma nova estrada... Porque quando você ama, você quer seguir junto.
E aí que eu não conseguia entender a definição do Apóstolo Paulo sobre o amor. Quem não sente ciúme? E quem consegue ser paciente? E quem suporta tudo? E quem já amou de verdade?
Porque a paixão te faz enxergar tudo embaçado, te atordoa, te tira o sono. Mas quando você ama, você enxerga tudo claramente, e quando você olha nos olhos de quem você ama você não se enxerga nele, mas vê refletido naqueles olhos o amor que você dedica.
Dizer que amo alguém não é simples e não é fácil, pelo menos pra mim. Não consigo dizer enquanto o espelho está embaçado, enquanto perco o sono, enquanto penso enlouquecer de paixão. Eu preciso enxergar claramente, eu preciso me sentir segura, eu preciso dormir em paz.
Porque, depois de um tempo de relacionamento, as coisas funcionam como se estivessem no automático. Ele vai ter ver algumas vezes por semana, chega, te dá um beijo, conta como foi o dia, talvez te leve um bombom ou uma rosa dessas compradas no semáforo porque ele não teve tempo de parar numa floricultura, os olhos dele estão cansados e ele não está muito criativo pra te fazer uma declaração ou te fazer chorar. Vocês conversam, ele te deseja boa noite, e vai embora. Talvez, no final de semana, vocês se encontrem no cinema ou no teatro, ou marquem de ir num show qualquer só pra ter um tempo mais juntos. E é aí que você sabe se você ama. Porque mesmo olhando aquele cara com os olhos cansados, reclamando do dia agitado e te levando uma rosa de semáforo ou um bombom qualquer, você o ama. Você sabe que é ele que te completa, que te faz bem, que te precisa independentemente dos seus defeitos e manias estranhas. É com ele que você quer envelhecer, só com ele, e mais ninguém. É pra ele que você quer contar as melhores notícias, e quando você olha pra ele, você sabe o quanto ele é grato por você amá-lo sem se importar com o cansaço e com a falta de criatividade dele pra te agradar. Você sabe e, desde aquele momento, você passa a ter certeza que toda aquela agitação do início do namoro se transformou em amor, e agora, mais do que nunca, você pode dizer pra ele que você o ama.
Porque o amor não é de repente, mas aos pouquinhos que acontece. O amor não é inconveniente, ele vai se alojando aos poucos, fazendo você se acostumar com a presença dele, e quando você vê você é todo ele.
Deixe de vulgarizar o amor. Diga que está apaixonado, que enlouquece de paixão, que está encantado, mas não diga que ama antes que o espelho desembace. Não iluda, não se iluda. O amor é eterno, não desaloja assim de repente. O amor mora, habita, aloja-se aqui dentro... E dificilmente sai. Ele nunca sai. Ele se camufla, perde o sentido, deixa de doer. Mas continua.
Sem a paixão, tudo começa a fazer sentido. Mas sem o amor, nada faria sentido, eu não seria nada, nem você, nem ninguém.