quarta-feira, 23 de abril de 2014

Tenta sentir

Lembra quando era fácil deitar numa rede, segurar um bom livro enquanto ouve o barulho do mar e o vento bagunça o seu cabelo? Nem parece que era tão fácil assim.
Você cresce e nem percebe.
De repente, você olha em volta e as pessoas não estão te chamando mais pra um luau em plena terça-feira, pra comer pastel numa tarde de uma quinta-feira qualquer. Ninguém mais está procurando professores de música ou rodas de leitura nas bibliotecas.
Isso é coisa que se vive na adolescência. Agora a gente é adulto.
Será que é?
Uma hora você está rodeado de amigos, falando de qualquer coisa, marcando encontro sempre debaixo da mesma árvore no fim da praia; na outra hora você está correndo, enfrentando filas em um cartório, se preparando para casar dali dois meses.
Quem é que respira?
O mundo fica meio acinzentado. Você viaja, tenta relaxar, conhecer outras pessoas, outros lugares... Mas uma hora você volta pro seu mundinho acinzentado.
E o que te resta?
Respirar fundo, olhar pra tudo e dizer: vou te colorir!
Quando o tempo passar como um louco por você, não pense duas vezes: saia como um louco atrás dele, correndo, sentindo o vento, fortaleça seus joelhos, respira compassadamente e nem se iluda que irá conseguir acompanhá-lo. Mas finja que ele te enlouquece, aí ele não te incomoda mais.
Esquece esse monte de coisas pra fazer e tira um tempo pra sentir.
Tá, eu sei. Não dá pra ser irresponsável, mas dá pra ser criança de novo uma vez no dia.
Ser aberto a receber qualquer sentimento e aproveitar cada momento. Não seja demente, seja sensível a tudo isso que te espera pra sentir algo bom.
Essa mania de se preocupar com tudo e sofrer pelo amanhã te faz ser triste. E pessoas tristes são evitadas, assim como pessoas felizes demais.
Correr, fazer e falar é barulhento demais. Tenta sentir da próxima vez.







quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Fogão de lenha

Era sagrado.
Todos os dias eu acordava, ia pra escola, almoçava e pegava as minhas panelinhas: era hora de fazer comida.
Saía pelo quintal recolhendo plantinhas diversas, terra, pedrinhas, gravetos e água. Eu desenformava bolinhos lindos de terra, decorava com folhas e servia para minhas bonecas no jogo de pratos rosa que minha mãe tinha comprado pra mim.
Eu poderia fazer isso na varanda da casa, na garagem, mas nada como cozinhar no quintal.
Lembro que minha mãe me procurava muitas vezes pela casa e me encontrava no meio do quintal, falando sozinha e cavando o chão em busca de terra mais fofa.
Eu passava horas ali.
Aí eu cresci e descobri que cozinhar comidas de verdade era também prazeroso, e descobri que tenho um certo talento pra coisa... Em meio a tantos almoços que precisei fazer, as lembranças dos tempos de fazer comidinhas de terra fora de casa foram ficando guardadas em algum canto aqui dentro.
Até essa semana.
Minha mãe instalou um fogão de lenha no quintal, colocou uma mesa perto, comprou um jogo de panelas de ferro, colheres de pau e ingredientes naturais. Chegou com as sacolas do mercado toda feliz e disse:
- Me ajuda a cozinhar no quintal?
Eu pude sentir o cheiro da terra molhada.
Cortamos os temperos na mesa, sentindo o vento bater no rosto, cuidando do fogo, colocando mais lenha, mexendo nas panelas. Cena que vai ficar pra sempre na memória.
Voltamos a ser criança.
Perguntei:
- Mãe, a senhora cozinhava no quintal quando era criança?
Ela respondeu:
- Sim, como você fazia.
E ficamos ali, por quase três horas, curtindo a magia de voltar a ser criança quando adulto.
Melhor que isso foi abrir as panelas e poder comer o que havíamos feito. Estava delicioso... A comida e as lembranças.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eu vou casar

Eu vou casar.
Eu sempre soube que me casaria um dia, mas não fazia ideia com quem seria.
Eu vou me casar com o homem que riu quando eu disse que pesava 130 quilos, que esperou eu voltar para dar meu endereço de e-mail, que foi gentil quando eu pensei que não existia mais gentileza.
Eu vou me casar com o homem que chegou de mansinho, que me mandou diversas indiretas de me tirar o fôlego, que me falou das estrelas.
Eu vou me casar com o silêncio dele, e ele vai casar com meu barulho de panelas, música clássica e gritos alucinados numa partida de futebol - e isso tudo ao mesmo tempo.
Eu vou me casar com o homem que faz carinho no meu pulso pra eu dormir, que cuida de mim quando estou doente e que respeita minha tpm.
Eu vou me casar com o homem que não cospe mais os caroços de uva porque o barulho me irrita, que não assobia no telefone pro meu ouvido não doer e que sabe que eu morro de medo de barulho de moto acelerando.
Eu vou me casar com o homem que me enche de livros, que me ouve contar a história depois e, pior, me acalma quando o livro é triste tentando me fazer sair do meu mundo de fantasia.
Eu vou me casar com um cientista que o tempo inteiro me faz ter noção do perigo de limpar o fogão que está ligado na tomada com os pés descalços, por exemplo, e que me fala quando terá eclipse.
Eu vou me casar com o homem que é meu amigo, que me ouve durantes horas, que me vê falar de um problema e resolvê-lo no minuto seguinte simplesmente por estar desabafando.
Eu vou me casar com o homem que me traz chocolates e me anima quando quero chutar o balde.
Eu vou me casar com o homem que decidiu lutar por mim, que não se importou com a minha religiosidade e arregaçou as mangas para me mostrar o Cristo.
Eu vou me casar com o homem que me ouviu chorar diversas noites, e me fez sorrir minutos antes de fechar os olhos e pegar no sono.
Eu vou casar com o homem que ora por mim até eu dormir, que me explica as coisas que não entendo, que respeita minha maneira de pensar e, melhor que isso, tenta entender.
Eu vou me casar com o homem que está completando 26 anos. Eu o conheço há 3 anos e meio, mas parece que não me lembro de como era o mundo antes disso.
Eu quero fazer esse homem feliz, agradá-lo com meus dotes culinários, decorar a nossa casinha, usar o avental florido pra fazer o almoço de domingo, cuidar dos nossos filhos, vê-lo crescer e realizar os sonhos de Deus pra nossa família.
Eu quero te dizer, Tharsis, que você foi a melhor surpresa de Deus pra mim e que nenhum presente que eu posso te dar representa o tamanho do amor e gratidão que sinto por você me amar.
Finalmente, o último aniversário que passaremos distantes. Ano que vem será na nossa casinha, comendo chocolate, tomando água com gás e vendo o nosso filme favorito.
Eu te amei ontem, te amo hoje, e vou te amar pra sempre.

Parabéns, amor!











sábado, 14 de setembro de 2013

Simplesmente cuida

Essa coisa de escrever com essa poluição sonora não é comigo, sabe?
Esses caminhões carregando cana, as bebidas chegando na transportadora que fica na rua detrás, os gatos irritando os cachorros da vizinha e, pior que isso, os pedreiros no quintal de casa.
Não há Bach que me ajude a escrever.
Finalmente, esse sábado me reservou uma tarde silenciosa na piscina com a minha mãe, um banho relaxante no final da tarde, e um silêncio precioso no início da noite que me fez voltar a ter vontade de escrever - não que eu esteja inspirada, mas sei lá.
Relaxar mais um pouco, sabe? Deixar os dedos correrem sobre o teclado e escrever o que quiser.
É ruim quando você passa muito tempo concentrada em escrever as coisas corretas, com início, meio e fim.
Eu não pretendo deixar tão cedo essa arte de deixar os dedos correrem sobre o teclado e aliviar um pouco da minha mente cansada, tão cansada ultimamente.
Você já tentou se conter quando conter-se não era sua atitude preferida?
É complicado não explodir quando se quer explodir.
É complicado não falar a verdade quando você percebe que as palavras poderiam arruinar o mundo de alguém.
Conter-se para não arruinar o mundo de alguém pode ser bastante incômodo, mas necessário.
Algumas coisas as pessoas, definitivamente, nascerão e morrerão sem conhecer, sem ter o privilégio de experimentar. E não falo de dinheiro. Eu falo de sentimentos, sensações, momentos que o dinheiro não compra.
É bom viver tranquilamente, sem se descabelar para pagar as contas e sustentar a pirralhada.
Mas essa sensação de banho tomado depois de uma tarde de muita conversa e risadas nada pode pagar. Como as muitas vezes que jogamos boliche, que tomamos champanhe ao som de um sertanejo barato porque era a sua música preferida.
Nada compra dias inteiros de farra, conversas intermináveis sobre o amor, a vida, o dinheiro, o sobrenatural. Nada compra as manhãs com café na cama e conversa jogada fora, as muitas vezes que estouramos o cartão comprando vestidos e sapatos e bijuterias e maquiagem. 
Nada compra essa nossa mania de desistir dos compromissos do dia pra colocar um vestido confortável e ficar na sala de papos pro ar.
Eu não trocaria essas lembranças para virar exposição.
Não troco os momentos que quero viver por alguns centavos que me fugirão das mãos como água.
Bom mesmo é ver a vida desse jeito. Se sentir realmente satisfeito depois de amar, de comer sujando a boca, de pegar a fruta no pé, de dormir no ombro amado com o vento batendo no rosto.
Quem vive assim sabe que o amor não adia encontro, não prorroga abraços, não deixa um beijo pra depois. Quem vive assim vive o momento, tira sarro do problema, ri depois de tudo resolvido, festeja quando dá certo e esquece o que foi feito errado.
Quem vive assim é criança, criança feliz, criança que não se importa com o que os outros pensam.
Quem vive assim sabe que não é mérito seu alguém ter escolhido pousar ao seu lado.
É lindo quando alguém resolve pousar do nosso lado podendo voar. Podendo encontrar outros ninhos, outros caminhos, mas escolhe ficar. Fica do nosso lado.
Quem vive assim não fala "se cuida". Quem pensa assim simplesmente cuida.


...


Já tá sabendo que eu lancei um e-book pela Saraiva?
Não? O.O
Então passa lá e garanta o seu :)

Agora pode sair, apagar a luz e fechar a porta. :)






sexta-feira, 16 de agosto de 2013

MEU PRIMEIRO LIVRO

Finalmente, entre travadas e destravados do meu computador e do sistema, publiquei o livro!
Estou muito, muito feliz e quero compartilhar isso tudo com vocês!

Compartilhe, divulgue, grite da janela do oitavo andar, desça a ladeira gritando aos ventos que meu livro finalmente foi lançado!

Clique aqui e compre!

Eu espero que vocês gostem, que vocês comentem, que o que eu escrevi um dia faça algum sentido pra você hoje!


Beijinhos e não apaga a luz não porque hoje eu não vou nem dormir de tanta alegria! :D

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Aviso de sumiço com NOVIDADE!

Você pode dizer o que quiser quanto à minha ausência no blog. Jamais concordarei com você quando disser que sumi, que abandonei e o escambau aquático porque somente agora sumirei oficialmente porque estou avisando por aqui.
É madrugada, não sei se vou conseguir organizar minhas ideias, mas é o seguinte:
MEUS TEXTOS VIRARÃO E-BOOK - ou livro digital!
Sim, é isso mesmo!
Por isso, além de estar num trabalho bastante cansativo da arte do e-book e tudo mais, estou escrevendo textos inéditos e - ÓBVIO - não irei postar aqui no blog por alguns dias, talvez meses.
Ainda não tenho ideia de quando lançarei o e-book, mas eu passarei no blog pra deixá-los atualizados.

De qualquer forma, estou muito empolgada, foi um sonho do meu namorado que acabou virando meu e que caiu em minhas mãos como um presente do céu!


Então... É isso!

Deixa a luz acesa quando sair porque trabalho é o que não me falta!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Desabafo

Pai, sou eu de novo aqui embaixo.
Dessa vez a janela não está aberta, eu sequer olhei se tem lua hoje e está muito frio, não tem brisa que me aquece, pelo contrário, um vento frio que gela meu coração toda as vezes que sinto essa dor.
Eu disse que nunca mais escreveria nada sobre o que realmente sinto, principalmente nesses dias escuros, mas somente os apaixonados juram nunca mais amar, eu jurei nunca mais escrever nessa escuridão e estou aqui, com os olhos marejados, te pedindo ensinamento.
Eu poderia te pedir tanta coisa. Dez reais, por exemplo. Ou uma festa de casamento.
Mas eu quero mesmo é aprender com você algumas coisas muito chatas, que incomodam qualquer criança.
Eu não sei esperar, não sei te olhar e acreditar nesse 'tempo certo pra todas as coisas' afinal, porque insistir sem fé nenhuma?
Mas aí eu insisto porque eu aprendi a confiar que, no final, alguma coisa fará sentido.
Me ensina a ver tudo o que eu vejo todos os dias e não explodir. Eu preciso aprender a não explodir, preciso aprender a enxergar as coisas desse teu jeito cheio de amor e de uma graça que eu não encontro em ninguém, afinal, quem me amaria desse jeito, não é mesmo?
Parece que eu estou jogando conversa fora, fugindo do assunto - pode até ser isso - , mas é que eu venho caminhando como posso, fazendo o que está ao meu alcance, cambaleando nesses dias escuros que me cegam e me dão um desespero horroroso.
Antes eu tinha certeza que essas coisas eram coisas de adolescente intenso, que ia passar. Mas é que agora sinto amadurecer, petrificar dentro de mim coisas que levarei pro resto da vida, que meus filhos enxergarão no fundo dos meus olhos como uma janela que se abre pro mundo, e eles saberão a dor que é enclausurar-se dentro de uma casulo que não é seu.
Eu preciso dessa força, dessa sua atitude, desse seu amor, do seu perdão pra que eu possa perdoar toda a minha falta de fé e coragem. Me perdoar porque, muitas vezes, esqueço que existe um céu para se olhar e me tirar um sorriso quando algumas coisas já não existirem mais em mim e nos outros.
Me perdoar por ter me tornado essa pessoa insípida, que deixou de ver a beleza que tu deixaste pra mim e foquei nisso tudo que não vale a pena.
Meus pés estão cansados mas, quem sabe ao te sentir de novo aqui eu arrisque mais um passo e tudo isso fique no passado, no mais distante passado.